Além da inédita injeção eletrônica nos GM, a assinatura que ele ganhou era um verdadeiro aval.
Quem vê a variedade de médios hoje não faz ideia de como esse mercado
era restrito nos anos 80: a Fiat não tinha seu representante e a Ford
contava com o Del Rey, variação do defasado Corcel. A disputa pelo posto
de melhor médio ficava entre o VW Santana e o Chevrolet Monza, este
último campeão de público. Mas a opinião da crítica era diferente: o
bicampeão Emerson Fittipaldi comentou na edição de janeiro de 1987 que o
Santana era seu preferido para rodar no Brasil. Como o mundo dá voltas,
o piloto venceu as 500 Milhas de Indianápolis, em 1989, com um F-Indy
de motor Chevrolet. A GM aproveitou a ocasião para fazer dele seu garoto
propaganda, lançando em 1990 uma série limitada de 5 000 unidades do
Monza Classic SE, chamada 500 EF.
O número se referia à vitória
na Indy, mas o carro nada tinha de esportivo: a mecânica era quase a
mesma e o aerofólio, os emblemas e os frisos exclusivos não alteravam o
visual sóbrio e austero. Ele trazia direção hidráulica com regulagem de
altura, ar-condicionado, vidros verdes, alarme, portamalas com abertura
remota, computador de bordo, bancos de couro e isolamento acústico
melhorado, colocando-o entre os dez mais silenciosos do país.
Também
contribuía para isso o câmbio manual de cinco marchas, com relações
longas para o motor trabalhar em rotações mais baixas, estimulando uma
tocada tranquila. O que soava forte era seu preço, 50% mais que um
Classic SE. Do total, 10% correspondiam à injeção eletrônica, principal
inovação do sedã. Mais caro que ele, só seu rival direto, o Santana
Executivo, também injetado. Fornecida pela Bosch, a injeção LE-Jetronic
contava com quatro bicos (um para cada cilindro). Ela aposentou o
carburador oferecendo maior desempenho, menor consumo e uma regularidade
de funcionamento jamais vista num automóvel nacional.
Ciente
dos problemas enfrentados pela Volks com a qualidade da gasolina
nacional no Gol GTi (que tinha a mesma injeção), a GM adotou uma taxa de
compressão mais baixa (8,8:1, ante 10:1 do GTi). Com isso, perdia-se em
rendimento, mas ganhava-se em confiabilidade, eliminando o sensor de
detonação, indispensável no Santana, com taxa de 10:1.
Mesmo
assim, os números do 500 EF ainda eram dignos de respeito: com 116 cv e
17,8 mkgf, ia de 0 a 100 km/h em 10,88 segundos, com máxima de 170 km/h
cravados. Em desempenho, seu 2.0 se equiparava ao Opala Diplomata 4.1.
Com tantos atributos, restava saber se era melhor que o Santana
Executivo. Após uma viagem de 7 350 km pelo Brasil, publicada na edição
de outubro de 1990, a reportagem chegou à conclusão de que nenhum deles
era completo, mas o Monza se destacava pela estabilidade e conforto,
cansando bem menos durante a viagem.
Além das cores (preto ou
vermelho perolizados), seu único opcional era o número de portas: como
bom sedã executivo, a grande maioria saiu com quatro portas, de tal
forma que as versões de duas são raríssimas. Uma delas é o carro das
fotos, do colecionador Júlio Camargo, de São José dos Campos (SP). "É um
primor de luxo e conforto e responde imediatamente quando se pisa forte
no acelerador. Uma esportividade implícita, com muita suavidade", diz.
Pioneiro
da injeção na linha GM, o 500 EF também abriu caminho para a segunda
geração do Monza, exorcizando o carburador numa campanha publicitária
que contava com a presença de Emerson. O carinho ao bicampeão seria
reeditado anos depois, dessa vez no Omega, que também figurou entre os
melhores automóveis de seu tempo.
Por Felipe Bitu | Fotos Christian Castanho
Quatro Rodas
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